Neste final de novembro de 2018 o IBGE divulgou a nova tábua de mortalidade da população brasileira, referente a 2017, também referenciada por tábua “IBGE-2017”, que passa a ser adotada para as políticas públicas nacionais. Atende assim ao determinado no Artigo 2º do Decreto Presidencial nº 3.266/1999:
“Art. 2°. Compete ao IBGE publicar, anualmente, até o dia primeiro de dezembro, no Diário Oficial da União, a tábua completa de mortalidade para o total da população brasileira referente ao ano anterior”.
As diversas atualizações da tábua de mortalidade do IBGE tem sido utilizadas como parâmetro na determinação do fator previdenciário para o cálculo dos valores de aposentadorias dos trabalhadores que estão sob o regramento legal do regime geral de previdência social.
Uma tábua de mortalidade apresenta a expectativa de vida a partir das idades exatas atingidas. Assim, pode-se determinar a expectativa de vida ao nascer. A tábua até então vigente, a “IBGE-2016”, apurou que cada brasileiro, ao nascer naquele ano, traria consigo a esperança de viver até aos 75,8 anos, em média.
Pela nova edição, o bebê nascido no ano de 2017 terá a expectativa média de viver um pouco mais: até aos 76,0 anos. E é sobre ele que se buscam algumas relações sobre longevidade. Conhecida a expectativa de vida “ao nascer”, parte-se para a identificação da expectativa que terá uma pessoa viva em determinada idade, chamada de “idade atingida”. Assim é que podemos estimar quantos anos mais viverá o adolescente, o jovem adulto, uma pessoa na meia idade ou nas terceira e quarta idades.
Divide-se então o tempo de vida entre passado e futuro. Já vivi o tempo que a minha idade revela. E mantenho a expectativa de viver outros tantos anos. Nessa linha está a famosa resposta que teria sido dada por Galileu Galilei, quando já havia ultrapassado em muito a juventude, a um interlocutor que perguntou-lhe “quantos anos tens?”: ‘tenho uns dez ou doze anos”. Diante da surpresa do ilustre amigo, Galileu completou: “é o que resta-me de vida”. Definia ali, intencionalmente ou não, o conceito de sobrevida.
Sem poder determinar a quantidade de sobrevida, estudiosos estatísticos deram à humanidade a capacidade de estimar esse tempo, a partir de estudos das populações.
Tome o leitor para exemplo a sua própria idade atual. Embora óbvio, é sempre bom repetir que, sendo um adulto, superou os riscos de morrer na infância e na adolescência. Suponha que essa idade atual seja de 20 anos. A tábua IBGE 2017 prevê expectativa ao caro leitor de viver mais 57,7 anos, ou seja, de morrer aos 77,7 anos. Um pouco mais, como parece natural esperar-se, do que os 76,0 anos previstos ao nascer.
Tome-se outra pessoa um pouco mais velha que, aos 42 anos, está a planejar sua aposentadoria. A nova tábua estima sobrevida de 37,5 anos, o que sinaliza a probabilidade viver até 79,9 anos.
Essa mesma tábua indica que uma pessoa viva aos 60 anos, momento em que requer a aposentadoria, tem a expectativa de viver por mais 22,4 anos, condição em que ultrapassará os 82 anos de vida. Uma outra pessoa, que há muito esteja aposentada, aos 79 anos espera viver por mais 10 anos, alcançando os 89 anos de idade. E assim seguem-se as expectativas de sobrevida, naturalmente enquanto vida tiver...
Duas das informações mais importantes que podem ser tiradas das tábuas de mortalidade: 1) elas são baseadas em probabilidades e, nessa condição, representam médias, que o senso comum ensina resultar do fato de que uns sobrevivem menos e outros mais. A consequência natural é que, submetida a grande número de pessoas, a média apresenta-se como boa estimativa para esse evento incerto; 2) a cada ano completado, aumenta a quantidade de vida, assim entendido o tempo já vivido mais a sobrevida.
Esse raciocínio lógico derruba um mito divulgado nas mídias, que costumam afirmar: “se um brasileiro tem expectativa de vida de 76,0 anos e se aposenta aos 65, viverá apenas 11 anos aposentado”. Ora, com se vê aqui exposto, tendo sobrevivido por 65 anos, o brasileiro médio viverá sua sobrevida aposentado por 18,7 anos. Bem mais do que a expectativa que teve ao nascer.
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